Mente Hebraica x Grego/Romana Parte 1

Mente Hebraica x Grego/Romana Parte 1

INTRODUÇÃO:

A Bíblia no original é, humanamente falando, um produto da mente hebraica. A primeira manifestação original do que hoje chamamos de “Igreja” foi também uma expressão da mente hebraica. Em algum ponto na história eclesiástica, alguém abandonou o projeto inicial dentro do contexto hebraico que era comum aos dias de Jesus e o substituiu por um não-hebraico, precisamente Grego/Romano. Como resultado, o que foi construído desde então tornou-se uma caricatura do que se pretendia. Em muitos aspectos tornou-se antagônica aos milênios de história, cultura e tradição oral herdada por gerações anteriores.
Vamos analisar algumas das diferenças fundamentais na mentalidade dos hebreus dos tempos bíblicos em contraste com a forma helenística (grego-romana) de pensar que deu surgimento a maior parte da teologia cristã.
O escritor William Barrett, explica diferenças fundamentais entre a mente Hebraica e Helenística: Fazer x Saber. Ele diz, “A distinção … é decorrente da diferença entre o fazer e o saber, a Hebraica está preocupada com a prática do comportamento correto que é de suma relevância, em contraste, a Helenística se preocupa com o conhecimento, o saber tem mais relevância sobre o fazer. Sendo assim a Hebraica exalta as virtudes morais como uma substância superior para uma vida significativa, e a Helenística exalta as virtudes intelectuais, o contraste é entre a prática e a teoria, entre o homem moral e o homem teórico-intelectual.
Isso talvez ajude a explicar o por que para muitas igrejas cristãs seu foco está nas questões ortodoxas doutrinaria e credos, o número de denominações cristãs que existem é uma prova concreta disso. Todas crêem nos mesmos princípios básicos mas divergem e se separam ao ponto de não terem comunhão pelas mínimas diferenças doutrinarias, mostrando que a “doutrina correta” e mais importante do que comunhão com um irmão de uma persuasão diferente da sua.
No judaísmo bíblico, ocorre justamente o oposto. Como Dennis Prager escreveu: “… a crença em D-us e o agir eticamente deve ser indissociáveis, indispensável… D-us exige um comportamento correto mais do que qualquer outra coisa, incluindo liturgia a crença correta.”
Foram gentios, que aceitaram Yeshua, que influenciados pela filosofia grega que intelectualizaram e sistematizaram a doutrina cristã. O pior de tudo e que eles mudaram essa doutrina de forma radical. Os hebreus dos dias de Jesus e logo a seguir a era apostólica da Igreja não tinham teologia formal ou sistematizada. A “igreja primitiva” não tinha hierarquia arraigada ou magistério por meio do qual toda a doutrina tinha de ser filtrada e aprovada.
O que os apóstolos, todos na sua maioria judeus, ensinavam sobre um determinado assunto que foi aprendido diretamente da Torá, do Tanak e de Jesus, foi aprendido com as tradições orais e experiências coletivas do povo judeu. Eles determinavam Halakha (como andar) diretamente das interpretações dos mestres em suas comunidades. A medida que as circunstâncias mudavam eles recorriam a interpretação da Torá (Pentateuco) e determinavam a ação a ser tomada (Halakha) (cf. Mateus 18:18).
Em Atos 15 fornece um relato de como, no mínimo, um ensinamento sobre requisitos para crentes gentios foi formado por volta de 50 DC. Observe a natureza participativa da discussão, todos os membros da comunidade participaram (Atos 15:4,12,22), e não apenas uma elite estava envolvida nas decisões.
Atualmente em círculos cristãos tradicionais muitas vezes é mais importante acreditar e abraçar “a coisa certa ou doutrina correta”, do que viver da maneira certa. Alguns são obcecados com credos, declarações doutrinais, teologia sistemática e ortodoxia contra uma possível heresia, esse modo de pensar é 100% helenístico.
Para muitos de nós, ocidentais, a mentalidade hebraica é tão estranha e impossível de compreender que ao estudar as escrituras hebraicas rapidamente pulamos de volta para a zona de conforto do molde helenístico. Naturalmente ao tentarmos interpretar o texto hebraico com nossa ótica ocidental (helenística) consequentemente será no mínimo distorcida. Note que a maior parte do Pentateuco (velho testamento) foi escrito em hebraico e há fortes indícios de que os evangelhos foram originalmente escritos em hebraico e depois traduzidos para grego, de qualquer forma quase todos os livros do novo testamento foram escritos por judeus, portanto foram escritos por pessoas que pensavam de forma hebraica apesar de terem usado outra língua (grego) para se comunicar e diferentes situações.
Por exemplo, em termos de tempos “proféticos” aqui novamente mostra-se o conceito helenístico de tempo – Inicio-meio-fim – pontos numa trajetória linear. Queremos saber a ordem sequencial quando D-us vai agir, criamos um cronograma pré-ordenado dos acontecimentos e queremos eliminar os eventos do nosso “calendário profético” a medida que eles vão acontecendo. Essa mentalidade é alienígena para a mente hebraica, para ela, não interessa a seqüência exata dos acontecimentos, o que interessa é que D-us vai agir, a leitura do tempo é cíclica e não linear.
Na teologia ocidental, às vezes abandona-se a interpretação literal das Escrituras em favor de interpretações alegóricas. Isso também é tipicamente grego-romano. Interpretação alegórica abre portas para uma infinidade de exposições “criativas” que deixam o estudante das Escrituras confuso e desorientado.
Autor: Brian Knowles
Tradução: A Sfalsin

Uma questão de perspectiva.

 

 

Uma questão de perspectiva.

Na Bíblia duas civilizações se colidem em suas perspectivas e narrativas da experiência humana e em relação ao divino. Na narrativa dos gregos/romanos a máxima é a exaltação da expressão da beleza, do encanto, da admiração, o prazer por meios dos cinco sentidos e o dualismo. Em contraste, na narrativa dos hebreus a máxima é experimentar D-us através das experiencias diárias e o holismo.
Outro aspecto importante é entender que os hebreus estudavam para reverenciar ao divino, os gregos estudavam construir e acumular conhecimento. É nesse contexto cultural do primeiro e segundo século que surge os escritores do novo testamento na sua maioria esmagadora eram judeus e alguns gentios convertidos ao judaísmo. Isso quer dizer que eles podem até ter escrito em grego, mas pensavam em hebraico e lançavam não dos escrituras sagradas Tanak (Bíblia judaica) como base para expandir seus escritos e registrar os feitos do Messias.

Sem dúvida essas duas civilizações influenciam nossa cosmovisão, desejo explorar um aspecto que influi nossa perspectiva quando lemos a bíblia. Frequentemente somos ensinados que os atributos de D-us são qualidades atribuídas ao seu caráter divino e é de suma importância para qualquer cristão entendê-los. Normalmente esses atributos são divididos em 2 categorias;
1- Os atributos incomunicáveis de D-us: Onipresença, Onipotência, Onisciência, Soberania, Infinitude, Imutabilidade, Unidade, Eternidade, Asseidade etc…
2- Os atributos comunicáveis de D-us: Amor, Bondade, Misericórdia, Sabedoria, Justiça, Santidade, Veracidade, Liberdade, Paz etc…

Tipicamente com pouca variação esses atributos são ensinados na teologia sistemática cristã. Minha pergunta é: Essa é a maneira que o homem analisa, define, vê e sistematiza D-us, mas como será que D-us se revela ao homem?
É importante notar que há uma grande diferença entre a perspectiva grego/romana e hebraica. O grego está preocupado com a atribuição de valores, beleza e qualidades por isso que esses atributos são todos adjetivos. Ao contrário do grego o hebraico está preocupado com as ações, os verbos, o que se faz.
Por exemplo:
1- O grego define um dia agradável dessa forma: Que dia lindo, esplendido de sol quente!
2 – Já o hebraico, assim: Que dia de sol que sinto e que queima minha pele.

Enquanto o grego está preocupado com a qualidade do sol, “lindo, esplendido” o hebraico está preocupado com a ação do sol, “sinto, queima”

Mas o que D-us diz a respeito dele mesmo na bíblia? Vamos analisar a perspectiva de D-us ao se revelar ao homem, não esquecendo que essa perspectiva é hebraica.

1- “Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para ser vosso Deus. Eu sou o Senhor vosso Deus” Números 15:41 , Êxodo 29:46, Levítico 11:45, Levítico 22:33, Verbo = Tirar, Fazer

2- “Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão.” Deuteronômio 32:39 Verbo = Matar, fazer viver

3- “E ele lhes disse: Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o D-us do céu, que fez o mar e a terra seca.” Jonas 1:9 Verbo = Fazer

4- “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há D-us; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças;” Isaías 45:5

5- “Portanto o santificarás, porquanto oferece o pão do teu Deus; santo será para ti, pois eu, o Senhor que vos santifica, sou santo.” Levítico 21:8 Verbo = “santificar” = Separar para um propósito

6- “Porque eu sou o Senhor teu Deus, que agito o mar, de modo que bramem as suas ondas. O Senhor dos Exércitos é o seu nome.” Isaías 51:15 Verbo = Agitar

7- “E, acerca dos mortos que houverem de ressuscitar, não tendes lido no livro de Moisés como Deus lhe falou na sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó?” Marcos 12:26 Verbo = Falar

8- “O Senhor guarda os estrangeiros; sustém o órfão e a viúva, mas transtorna o caminho dos ímpios.” Salmos 146:9 Verbo = Guarda (cuidar)

Como podemos observar acima D-us se revela em ações e algumas vezes em atributos que levam a ações. Como devemos nos relacionar com esse D-us? Ao atribuímos adjetivos a D-us constrói-se uma distância entre você e Ele, porque não podemos imitar Seus atributos, especialmente a perfeição.
E porque Ele se revela em ações? Eu suspeito que é mais fácil se relacionar ou imitar suas ações do que seus atributos, ao imitá-lo me torno semelhante a Ele e isso me aproxima.

Quando ele diz:
Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus.” Levítico 20:7
Ou
“Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” 1 Pedro 1:16

Muitos de prontidão não conseguem se relacionar com esses versículos, primeiro porque a santidade é sinônimo de perfeição, que não é verdade; segundo, porque é um adjetivo, e adjetivos não são fáceis de imitar.
Na verdade a origem da palavra “santo” no hebraico não é um adjetivo mas sim um verbo קָדַשׁ qâdash = que quer dizer separar-se para um propósito específico, aqui está toda a diferença! Agora posso me relacionar melhor com o criador, Ele está me pedindo para fazer algo, um verbo, essa ação eu posso compartilhar com Ele e me tornar mais “igual” a Ele. Santificação?
Com certeza não posso tirar o povo do Egito nem abrir o mais vermelho, mas posso fazer justiça ao órfão e à viúva, amar ao estrangeiro, dando-lhe pão e roupa. Posso incorporar no meu dia a dia os valores morais ensinados na Torah, que são vitais para uma sociedade equilibrada, posso honrar meu pai e minha mãe, posso ser honesto nos meus negócios, ser fiel a minha esposa(o), praticar a justiça, amar a bondade, ser humilde, não fazer fofoca etc… Isso é o que ele pede de nós, não a perfeição.
Se entendermos isso, nossa familia, comunidade e sociedade se beneficiará muito com a presença de D-us agindo através de nossas ações.

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?”
Miquéias 6:8

O que D-us faz:
“Que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa” Deuteronômio 10:18

O que eu posso fazer:
“A religião pura e imaculada para com D-us e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” Tiago 1:27

Nosso desafio é entender essas diferenças, tentar entender o texto dentro do seu contexto histórico e cultural e depois aplicar em nossa vida, não impor ao texto nossa cosmovisão que é fortemente influenciada pela perspectiva grega.

Lógica em bloco, Mente Hebraica x Grego-Romana

Lógica em bloco
Mente Hebraica x Grego-Romana

Com referência ao artigo “Mente Hebraica x Grego-Romana (integra)” https://raizeshebraicas.com/2013/10/12/mente-hebraica-x-grego-romana-integra/ esse artigo expande um pouco mais o aspecto: “lógica em bloco”

A mente Grego-Romana que influenciou de forma significativa todos os aspectos da vida ocidental deste a religião até a construção civil, como regra argumenta problemas começando com uma premissa. A premissa em lógica é um conjunto de uma ou mais de uma sentença declarativa que é acompanhada de uma outra frase declarativa que é a conclusão. A verdade da conclusão é uma conseqüência lógica das premissas que a antecederam. Toda premissa, pode ser verdadeira ou falsa, bem como a conclusão, não aceitando jamais a ambiguidade. Portanto, as frases que apresentam uma premissa são referidas como verdadeiras ou falsas válidas ou inválidas, portanto, devem ser portadoras da verdade. Portanto resultado é preto ou branco, não há espaço para ambiguidade ou área cinza.
Em contraste a mente Hebraica também faz uso da lógica em bloco, cada assunto é expressado em unidades individuais mas esses blocos não necessariamente se encaixam logicamente or harmoniosamente com outros aspectos da vida especialmente quando se trata da perspectiva do homem em relação a verdade e a perspectiva divina. Esse forma de pensamento cria a tendência para o paradoxo, antinomia ou aparente contradição, o bloco se mantém em constante tensão, frequentemente nos parece irracional e cria-se a polaridade, o resultado tornando-se cinza em vez de preto e branco, resultando em ambiguidade.
Essa tensão é particularmente rejeitada pela mente ocidental cujo padrão de pensamentos foram influenciados pela lógica Grego-Romana. Quando abrimos as escrituras hebraicas somos convidados a mergulhar no mundo oriental do oriente médio, precisamos passar por uma “conversão” intelectual a fim de fazer algum sentido dos textos, de outra forma inevitavelmente equívocos de interpretação irão ocorrer e consequentemente erros no comportamento.
Vamos observar alguns exemplos de lógica em bloco na perspectiva hebraica:
Êxodo 8:15, 7:3 diz que Faraó endureceu o coração mas também diz que o Senhor endureceu o coração de Faraó.
Isa 45:7, Hab 3:2 os profetas dizem que o Senhor é misericordioso e se ira.
João 1:29, 36, Apoc 5:5 se referem a Jesus como “cordeiro de D-us” e “leão da tribo de Judá”.
Judas 1:13, Apoc 19:20 se referem ao inferno como “negrura das trevas” e “logo de fogo ardente”
Em relação a salvação o Senhor Jesus disse: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”João 6:37 e “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” João 6:44.
Em Mateus 10:39, “Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.
Em 2 Coríntios 12:10, “Porque quando estou fraco então sou forte”
Em Lucas 14:11, “Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”
Em Romanos  9:13 “Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú” como referencia ao texto original em Malaquias 1:3 “E odiei a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto” muitos mais outros exemplos podem ser achados tanto no “velho” como no novo testamento.
Algumas considerações da lógica me bloco podem levar ao leitor a ter a impressão que a soberania de D-us e a responsabilidade humana são incompatíveis. Para a mente hebraica entretanto tal violação não ocorre pois eles veem suas escolhas sendo uma forma de cumprimento da “vontade” divina. Nos trechos bíblicos que tratam da “predestinação-eleição” e “livre arbítrio” não podemos desconsiderar que D-us é soberano e ao mesmo tempo homem é senhor (soberano) do seu “destino” porque D-us nunca o forcará a servi-lo.
Samuel Sandmel em seu livro “Judaism and Christian beginnings” pagina 226, ele diz:
“A visão de que o destino de cada ser humano é destinado por D-us é superficialmente similar a visão grega de “sorte”. Conforme definição grega, sorte é uma forca sega que dita o que acontece aos homens assim como aos deuses gregos e que não pode ser alterada. De forma similar a predestinação condena ou salva alguém, a diferença é que essa força é chamada D-us.
A visão hebraica, talvez podemos chamar de providencia, nunca conclui que o futuro é inalterado porque esse visão contraria a omnipotência e misericórdia de D-us, nem tira a responsabilidade do livre arbítrio do homem.
Como o Rabbi Akiba disse: (Tudo dependente da providência de D-us ao mesmo tempo o homem tem livre arbítrio). O Destino do homem é proposto por D-us mas pode ser alterado, a oração é uma forma de alteração”
A mente hebraica é capaz de administrar bem essa tensão dinâmica e paradoxal sem ter que dar uma resposta exata, preto ou branco. A ambiguidade é bem-vinda.
Atenta para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto? Eclesiastes 7:13

 
Baseado do Livro “Our Father Abraham” de Marvim R Wilson. pg 150.
(Encorajo aos que entendem inglês a ler esse livro) 
Tradução livre
: Adivalter Sfalsin

Mente Hebraica x Grego-Romana (integra)

 
Mente Hebraica x Grego-Romana
 
Parte 1 
 

A Bíblia no original é, humanamente falando, um produto da mente hebraica. A primeira manifestação original do que hoje chamamos de “Igreja” foi também uma expressão da mente hebraica. Em algum ponto na história eclesiástica, alguém abandonou o projeto inicial dentro do contexto hebraico comum aos dias de Jesus e o substituiu por um não-hebraico, precisamente Grego/Romano. Como resultado, o que foi construído desde então tornou-se uma caricatura do que se pretendia. Em muitos aspectos tornou-se antagônica aos milênios de historia, cultura e tradição oral herdada por gerações anteriores. Vamos analisar algumas das diferenças fundamentais na mentalidade dos hebreus dos tempos bíblicos em contraste com a forma helenística (grego-romana) de pensar que deu surgimento a maior parte da teologia cristã. William Barrett, explica diferenças fundamentais entre a mente Hebraica e Helenística: Fazer x Saber. Diz Barrett, “A distinção … é decorrente da diferença entre o fazer e o saber, a Hebraica está preocupada com a prática do comportamento correto que é de suma relevância, em contraste, a Helenística se preocupa com o conhecimento, o saber tem relevância sobre o fazer. Sendo assim a Hebraica exalta as virtudes morais como uma substância superior para uma vida significativa, e a Helenística  exalta as virtudes intelectuais, o contraste é entre a prática e a teoria, entre o homem moral e o homem teórico-intelectual. Isso talvez ajude a explicar o por que para muitas igrejas cristãs seu foco está nas questões ortodoxas doutrinaria, o número de denominações cristãs que existe é uma prova concreta disso. Todas crêem nos mesmos princípios básicos mas divergem e se separam ao ponto de não terem comunhão pelas mínimas diferenças doutrinarias, mostrando que a “doutrina correta” e mais importante do que comunhão com um irmão de uma persuasão diferente da sua. No judaísmo bíblico, é justamente o oposto. Como Dennis Prager escreveu: “… a crença em D-us e o agir eticamente deve ser indissociáveis, indispensável… D-us exige um comportamento correto mais do que qualquer outra coisa, incluindo liturgia  a crença correta.” Foram cristãos gentios influenciados pela filosofia grega que intelectualizaram e sistematizaram a doutrina cristã. O pior de tudo e que eles mudaram essa doutrina de forma radical. Os hebreus dos dias de Jesus e logo a seguir a era apostólica da Igreja não tinham teologia formal ou sistematizada. A “igreja primitiva” não tinha hierarquia arraigada ou magistério por meio do qual toda a doutrina tinha de ser filtrada e aprovada. O que os apóstolos ensinavam sobre um determinado assunto era aprendido diretamente de Jesus, aprendido com as tradições orais e experiências coletivas do povo judeu. Eles determinavam Halakha (como andar) diretamente das interpretações dos mestres em suas comunidades. A medida que as circunstâncias mudavam eles recorriam a interpretação da Torá (Pentateuco) e determinavam a ação a ser tomada (Halakha) (cf. Mateus 18:18). Atos 15 fornece um relato de como, no mínimo, um ensinamento sobre requisitos para crentes gentios foi formado por volta de 50 DC. Observe a natureza participativa da discussão, todos os membros da Igreja participaram (Atos 15:4,12,22), e não apenas uma elite estava envolvida nas decisões. Em círculos cristãos tradicionais muitas vezes é mais importante acreditar e abraçar “a coisa certa ou doutrina correta”, do que viver da maneira certa. Alguns são obcecados com credos, declarações doutrinais, teologia sistemática e ortodoxia contra a heresia, esse modo de pensar é 100% helenístico. Para muitos de nós, ocidentais, a mentalidade hebraica é tão estranha e impossível de compreender que ao estudar as escrituras hebraicas rapidamente pulamos de volta para a zona de conforto do molde helenístico. Naturalmente ao tentarmos interpretar o texto hebraico com nossa ótica ocidental (helenística) de interpretação consequentemente será no mínimo distorcida. Note que a maior parte do velho testamento foi escrito em hebraico e há fortes indícios de que os evangelhos foram originalmente escritos em hebraico e depois traduzidos para grego, de qualquer forma todos os livros do novo testamento foram escritos por judeus, portanto foram escritos por pessoas que pensavam de forma hebraica apesar de terem usado outra língua (grego).   Por exemplo, em termos de tempos “proféticos” aqui novamente mostra-se o conceito helenístico de tempo – Inicio-meio-fim – pontos numa trajetória linear. Queremos saber a ordem sequencial quando D-us vai agir, criamos um cronograma pré-ordenado dos acontecimentos e queremos eliminar os eventos do nosso “calendário profético” a medida que eles vão acontecendo. Essa mentalidade é alienígena para a mente hebraica, para ela, não interessa a seqüência exata dos acontecimentos, o que interessa é que D-us vai agir, a leitura do tempo é cíclica e não linear. 

Na teologia ocidental, às vezes abandona-se a interpretação literal das Escrituras em favor de interpretações alegóricas. Isso também é tipicamente grego-romano. Interpretação alegórica abre portas para uma infinidade de exposições “criativas”  que deixam o estudante das Escrituras confuso e desorientado.
 
Parte 2
 

Principais diferenças entre mente Grego-Romana e Hebraica.   GR – A vida é analisada em categorias precisas. H – Toda a vida se mistura em todos aspectos.   GR – Uma divisão clara entre o natural e o supernatural H – O supernatural afeta toda a vida.

 
 

GR – Lógica em bloco com uma única solução como resultado final .

H – Lógica em bloco com varias soluções como resultado final dependendo da  perspectiva.  
 
 

GR – Leitura do tempo  linear. H – Leitura do tempo em forma ciclica.

 
 

GR – Orientação para o futuro próximo.

H – Orientação para as lições da história.
 
 

GR – O Tempo é linear e dividido em segmentos precisos. Cada evento é um novo acontecimento.

H – O Tempo é cíclico. Eventos similares constantemente reaparecer, (O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Ecl 1:9)
 
GR – Individualismo

H – Importância em ser parte do grupo   GR – Igualdade das pessoas H -Valor vem de um lugar em hierarquias   GR – A concorrência é boa H – A competição é mal (melhor cooperação)   GR – Universo é centrado no homem H – Universo é centrado em D-us-tribo-família   GR –  Valor da pessoa com base em dinheiro-bens materiais-poder H – Valor derivado das relações familiares   GR – Vida biológica é sagrada H – A vida social extremamente importante   GR – Aleatoriedade + causa & efeito determinam o que acontece na vida H – D-us causa tudo em seu universo   GR – Homem domina natureza através da compreensão e aplicação das leis da ciência H – D-us domina tudo, portanto, relacionamento com Ele determina o resultado dos acontecimentos.   GR – Poder é obtido por meio dos negócios, da política e influências. H – Poder social é resultado de padrões pré-ordenados por D-us.   GR – Tudo o que existe é o material H – O universo está repleto de seres espirituais poderosos GR – A História grava fatos objetivos e cronológicos.  H – A história é uma tentativa de preservar verdades significativas de forma significativa e memorável, não necessariamente fatos são  objetivos. GR – A mudança é progresso = bom. H – A mudança é ruim = destruição das tradições.   GR – Universo evoluiu pelo acaso. H – Universo criado por D-us.   GR – Universo é dominado e controlado pela ciência e tecnologia H – D-us deu ao homem domínio sobre sua criação mas haverá  Prestação de contas a D-us.   GR – Bens materiais = medida de realização pessoal. H – Bens materiais = bênção de D-us para ser compartilhado com outros.   GR – A fé cega H – A fé é baseada no conhecimento – experiência pessoal e em grupo   GR – Tempo como pontos em uma linha reta, inicio-meio-fim (“neste momento no tempo …” H – Tempo determinado pelo conteúdo (“No dia em que o Senhor fez …”)   Parte 3

 
Ao abordarmos as escrituras Hebraicas com nossa mente Grego-Romana que é altamente científica sem a devida  consideração podemos produzir distorções exegéticas grotescas. Ao tentar entender a cultura hebraica dos dias bíblicos assim como aqueles que viviam nesse tempo vamos experimentar um choque cultural devido a diferença cultural e visão do mundo, seus padrões de pensamento eram bastante distinta do nosso, seus valores e percepções eram radicalmente diferente. A Bíblia foi escrita em uma era pré-científica. A língua hebraica em si é bastante diferente do nosso em muitos aspectos infelizmente muito foi perdido na tradução.
       Quando estudamos as Escrituras, ou quando consideramos a natureza do início do Novo Testamento na comunidade messiânica, temos de levar em conta as diferenças entre o pensamento hebraico e helenístico. Intelectualmente, nós somos gregos, não hebreus. Nós aplicamos raciocínio baseado nas teorias de Aristóteles e Sócrates em quase tudo que analisamos, mesmo não tenho consciência, devido ao método de ensino que fomos submetidos toda a nossa vida através da cultura em que vivemos. É extremamente difícil se desvincular  desses padrões e entrar na mente hebraica. Temos uma certa insistência  em analisar tudo em padrões logicamente consistentes, em sistematizá-los, em organizá-los, teologias cuidadosamente fundamentadas. Não conseguimos conviver com inconsistência ou contradição confortavelmente. A Divindade tem que ser bem definida e estruturada rejeitamos a idéia hebraica de que D-us é simplesmente inefável, e que o Seu livro não se encaixa em nossa sistematização. Como Abraham Heschel escreveu: “Ao tentar sistematizar a Bíblia, que é cheia de vida, drama e tensão, a uma série de princípios seria como tentar reduzir uma pessoa viva a um diagrama” – Livro – D-us em Busca do Homem por Abraham Heschel, p. 20.
      A mente ocidental, quando procura compreender as Escrituras ou o que significa ser um “cristão”, cria seus próprios dilemas exegéticos e teológicos. (“Se D-us é todo-poderoso, poderia ele criar uma pedra tão pesada que não conseguiria levantar?” Ou “Se D-us é amor, então por que ele permite que o mal aconteça …?”) Incansavelmente tentamos organizar tudo em blocos gerenciáveis e estruturas intelectuais, queremos que todas as perguntas sejam respondidas, todos os problemas sejam resolvidos, e todas as contradições resolvidas.
Em nossa busca incessante de transformar as Escrituras em um livro sistematizado de respostas teológicas sobre D-us, acabamos distorcendo seu conteúdo. Procuramos entender o incompreensível, D-us; tentamos transformar o abstrato em concreto. Mas, “Para a mente judaica, o entendimento de D-us não é alcançado referindo-se dentro do modo grego de qualidades intemporais de um ser supremo, ou idéias de bondade e perfeição mas sim experimentando Seu cuidado no nosso dia-a-dia, Sua atenção aos pormenores de nossa vida de forma dinâmica. Não ha muita importância em falar de sua bondade mas a ênfase é posta em Sua compaixão para com o homem individualmente.”(Heschel, p. 21). Em outras palavras, D-us não é “conhecido” no abstrato, mas em situações específicas em que Ele afirma-se como D-us sobre a vida de cada um. D-us é o que Ele se revelou, não o que teorizamos a Seu respeito. Vemos Sua interação com o povo de Israel por milhares de anos baseado em experiências tangíveis na vida de indivíduos.
     
      Se quisermos entender a Bíblia, e o que significa ser um seguidor de Yeshua ha Mashiach (Jesus, o Messias), então teremos que entende-la Hebraicamente, não Helenisticamente. Isso vai exigir uma mudança de paradigma filosófico e intelectual de nossa parte, isso vai significar abordar as escrituras a partir de um ângulo totalmente diferente.
Heschel também escreve: “Os gregos aprendiam a fim de compreender. Os hebreus aprendiam a fim de reverenciar. O homem moderno aprende a fim de usar” (ibid., p. 34).
 
Parte 4
 
 Queremos uma religião de utilidade. Queremos técnicas que podem ser aplicadas conforme cada situação que experimentamos. Nós vemos muito “técnica orientadas” na igreja hoje em dia, como: 3 passos para crescer espiritualmente, 10 mais de ter um bom relacionamento, etc…
 Queremos técnicas para a compreensão, sistematização e estruturação do “calendário profético” para que possamos saber “o que vai acontecer a seguir”. Algumas pessoas querem saber para que elas possam ter algo para comercializar a outros cristãos que também querem saber. Estes são os que procuram ganhar com a “piedade” ou religião (cf. I Timóteo 6:5). Buscamos  “técnicas cristãs” de cura interior, cura exterior,  prosperidade financeira, ou para receber poder espiritual. Esta maneira de pensar é alheia a mente hebraica.
Em nossa cultura, temos comercializado tudo, incluindo o cristianismo. Infelizmente não pregamos o Evangelho, curamos os enfermos, expulsamos os demônios e fazemos discípulos – muitos aplicam boa partes dos seus esforços vendendo parafernália “cristã” folhetos e bugigangas. Fazemos música, não para adorar a Deus, mas para vender CDs. Evangelistas são escolhidos para pregar porque “sabem atrair multidões”, o poder ministerial foi comercializado e politizado, tanto quanto a de políticos regulares. Editoras cristãs publicar livros de celebridades cristãos – não porque eles são bem escritos, ou porque dizem algo importante, mas porque eles vão vender e fazer dinheiro.
Nos dias em que o movimento de Jesus  era conhecido como a “seita dos nazarenos” (Atos 24:5,14), ser um “cristão” estava relacionado diretamente com sua proximidade com Deus e com o próximo (Mateus 22:36-38; João 13:34-35). Nos séculos posteriores entretanto demos menos importância aos relacionamentos e ao mesmo tempo intelectualizamos e politizamos a fé. Essas influências deletérias mudaram radicalmente a natureza da Igreja. O espírito anti-judaísmo e mais tarde o anti-semitismo destruiu a personalidade original da igreja em muitos aspectos. Isso explica por que é tão difícil para muitos entender a Bíblia como um todo, velho e novo Testamento em harmonia.
Surpreendentemente no meio cristão sabe-se muito pouco sobre os 4 primeiros séculos da historia da igreja, que era predominantemente composta de Judeus que continuavam a guardar o sábado e ir as sinagogas assim como Jesus o fez toda a sua vida. Nos seminários dá-se muita ênfase a historia da igreja depois do quarto século, período em que boa parte da sua essência fora corrompida por vários fatores históricos e culturais, um deles em destaque foi a “cristianização” do império romano por Constantino em 321 por intermédio do Édito de Constantino que determinou oficialmente o domingo como dia de “santo”, dia do deus sol (padroeiro de Constantino) venerado por povos pagãos desde o Egito antigo.
Para realmente entender o que significa ser um seguidor de Yeshua, (Jesus) deve-se voltar às raízes hebraicas de seu movimento, e dos documentos que agora se referem como “O Novo Testamento”.
 
FIM
 
Autor: Brian Knowles
Tradução: Adivalter Sfalsin

Mente Hebraica x Grego/Romana Parte 4

Continuação
 Queremos uma religião de utilidade. Queremos técnicas que podem ser aplicadas conforme cada situação que experimentamos. Nós vemos muito “técnica orientadas” na igreja hoje em dia, como: 3 passos para crescer espiritualmente, 10 mais de ter um bom relacionamento, etc…
 Queremos técnicas para a compreensão, sistematização e estruturação do “calendário profético” para que possamos saber “o que vai acontecer a seguir”. Algumas pessoas querem saber para que elas possam ter algo para comercializar a outros cristãos que também querem saber. Estes são os que procuram ganhar com a “piedade” ou religião (cf. I Timóteo 6:5). Buscamos  “técnicas cristãs” de cura interior, cura exterior,  prosperidade financeira, ou para receber poder espiritual. Esta maneira de pensar é alheia a mente hebraica.
Em nossa cultura, temos comercializado tudo, incluindo o cristianismo. Infelizmente não pregamos o Evangelho, curamos os enfermos, expulsamos os demônios e fazemos discípulos – muitos aplicam boa partes dos seus esforços vendendo parafernália “cristã” folhetos e bugigangas. Fazemos música, não para adorar a Deus, mas para vender CDs. Evangelistas são escolhidos para pregar porque “sabem atrair multidões”, o poder ministerial foi comercializado e politizado, tanto quanto a de políticos regulares. Editoras cristãs publicar livros de celebridades cristãos – não porque eles são bem escritos, ou porque dizem algo importante, mas porque eles vão vender e fazer dinheiro.
Nos dias em que o movimento de Jesus  era conhecido como a “seita dos nazarenos” (Atos 24:5,14), ser um “cristão” estava relacionado diretamente com sua proximidade com Deus e com o próximo (Mateus 22:36-38; João 13:34-35). Nos séculos posteriores entretanto demos menos importância aos relacionamentos e ao mesmo tempo intelectualizamos e politizamos a fé. Essas influências deletérias mudaram radicalmente a natureza da Igreja. O espírito anti-judaísmo e mais tarde o anti-semitismo destruiu a personalidade original da igreja em muitos aspectos. Isso explica por que é tão difícil para muitos entender a Bíblia como um todo, velho e novo Testamento em harmonia.
Surpreendentemente no meio cristão sabe-se muito pouco sobre os 4 primeiros séculos da historia da igreja, que era predominantemente composta de Judeus que continuavam a guardar o sábado e ir as sinagogas assim como Jesus o fez toda a sua vida. Nos seminários dá-se muita ênfase a historia da igreja depois do quarto século, período em que boa parte da sua essência fora corrompida por vários fatores históricos e culturais, um deles em destaque foi a “cristianização” do império romano por Constantino em 321 por intermédio do Édito de Constantino que determinou oficialmente o domingo como dia de “santo”, dia do deus sol (padroeiro de Constantino) venerado por povos pagãos desde o Egito antigo.
Para realmente entender o que significa ser um seguidor de Yeshua, (Jesus) deve-se voltar às raízes hebraicas de seu movimento, e dos documentos que agora se referem como “O Novo Testamento”.
FIM
Autor: Brian Knowles
Tradução: A S A

Mente Hebraica x Grego/Romana Parte 3

Continuação
Ao abordarmos as escrituras Hebraicas com nossa mente Grego-Romana que é altamente científica sem a devida  consideração podemos produzir distorções exegéticas grotescas. Ao tentar entender a cultura hebraica dos dias bíblicos assim como aqueles que viviam nesse tempo vamos experimentar um choque cultural devido a diferença cultural e visão do mundo, seus padrões de pensamento eram bastante distinta do nosso, seus valores e percepções eram radicalmente diferente. A Bíblia foi escrita em uma era pré-científica. A língua hebraica em si é bastante diferente do nosso em muitos aspectos infelizmente muito foi perdido na tradução.
       Quando estudamos as Escrituras, ou quando consideramos a natureza do início do Novo Testamento na comunidade messiânica, temos de levar em conta as diferenças entre o pensamento hebraico e helenístico. Intelectualmente, nós somos gregos, não hebreus. Nós aplicamos raciocínio baseado nas teorias de Aristóteles e Sócrates em quase tudo que analisamos, mesmo não tenho consciência, devido ao método de ensino que fomos submetidos toda a nossa vida através da cultura em que vivemos. É extremamente difícil se desvincular  desses padrões e entrar na mente hebraica. Temos uma certa insistência  em analisar tudo em padrões logicamente consistentes, em sistematizá-los, em organizá-los, teologias cuidadosamente fundamentadas. Não conseguimos conviver com inconsistência ou contradição confortavelmente. A Divindade tem que ser bem definida e estruturada rejeitamos a idéia hebraica de que D-us é simplesmente inefável, e que o Seu livro não se encaixa em nossa sistematização. Como Abraham Heschel escreveu: “Ao tentar sistematizar a Bíblia, que é cheia de vida, drama e tensão, a uma série de princípios seria como tentar reduzir uma pessoa viva a um diagrama” – Livro – D-us em Busca do Homem por Abraham Heschel, p. 20.
      A mente ocidental, quando procura compreender as Escrituras ou o que significa ser um “cristão”, cria seus próprios dilemas exegéticos e teológicos. (“Se D-us é todo-poderoso, poderia ele criar uma pedra tão pesada que não conseguiria levantar?” Ou “Se D-us é amor, então por que ele permite que o mal aconteça …?”) Incansavelmente tentamos organizar tudo em blocos gerenciáveis e estruturas intelectuais, queremos que todas as perguntas sejam respondidas, todos os problemas sejam resolvidos, e todas as contradições resolvidas.
Em nossa busca incessante de transformar as Escrituras em um livro sistematizado de respostas teológicas sobre D-us, acabamos distorcendo seu conteúdo. Procuramos entender o incompreensível, D-us; tentamos transformar o abstrato em concreto. Mas, “Para a mente judaica, o entendimento de D-us não é alcançado referindo-se dentro do modo grego de qualidades intemporais de um ser supremo, ou idéias de bondade e perfeição mas sim experimentando Seu cuidado no nosso dia-a-dia, Sua atenção aos pormenores de nossa vida de forma dinâmica. Não ha muita importância em falar de sua bondade mas a ênfase é posta em Sua compaixão para com o homem individualmente.”(Heschel, p. 21). Em outras palavras, D-us não é “conhecido” no abstrato, mas em situações específicas em que Ele afirma-se como D-us sobre a vida de cada um. D-us é o que Ele se revelou, não o que teorizamos a Seu respeito. Vemos Sua interação com o povo de Israel por milhares de anos baseado em experiências tangíveis na vida de indivíduos.
      Se quisermos entender a Bíblia, e o que significa ser um seguidor de Yeshua ha Mashiach (Jesus, o Messias), então teremos que entende-la Hebraicamente, não Helenisticamente. Isso vai exigir uma mudança de paradigma filosófico e intelectual de nossa parte, isso vai significar abordar as escrituras a partir de um ângulo totalmente diferente.
Heschel também escreve: “Os gregos aprendiam a fim de compreender. Os hebreus aprendiam a fim de reverenciar. O homem moderno aprende a fim de usar” (ibid., p. 34).
 Autor: Brian Knowles
Tradução: A S A

Mente Hebraica x Grego/Romana Parte 2

Continuação

Principais diferenças entre mente Grego-Romana e Hebraica.

GR – A vida é analisada em categorias precisas.

H – Toda a vida se mistura em todos aspectos.

GR – Uma divisão clara entre o natural e o supernatural

H – O supernatural afeta toda a vida.

GR – Lógica linear.

H – Lógica em bloco e ciclica.

GR – Individualismo

H – Importância em ser parte do grupo

GR – Igualdade das pessoas

H -Valor vem de um lugar em hierarquias

GR – A concorrência é boa

H – A competição é mal (melhor cooperação)

GR – Universo é centrado no homem

H – Universo é centrado em D-us-tribo-família

GR –  Valor da pessoa com base em dinheiro-bens materiais-poder

H – Valor derivado das relações familiares

GR – Vida biológica é sagrada

H – A vida social extremamente importante

GR – Aleatoriedade + causa & efeito determinam o que acontece na vida

H – D-us causa tudo em seu universo

GR – Homem domina natureza através da compreensão e aplicação das leis da ciência

H – D-us domina tudo, portanto, relacionamento com Ele determina o resultado dos acontecimentos.

GR – Poder é obtido por meio dos negócios, da política e influências.

H – Poder social é resultado de padrões pré-ordenados por D-us.

GR – Tudo o que existe é o material

H – O universo está repleto de seres espirituais poderosos

GR – O Tempo é linear e dividido em segmentos precisos. Cada evento é um novo acontecimento.

H – O Tempo é cíclico. Eventos similares constantemente reaparecer, (O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Ecl 1:9)

GR – A História grava fatos objetivos e cronológicos.

H – A história é uma tentativa de preservar verdades significativas de forma significativa e memorável, não necessariamente fatos são  objetivos.

GR – Orientação para o futuro próximo.

H – Orientação para as lições da história.

GR – A mudança é progresso = bom.

H – A mudança é ruim = destruição das tradições.

GR – Universo evoluiu pelo acaso.

H – Universo criado por D-us.

GR – Universo é dominado e controlado pela ciência e tecnologia

H – D-us deu ao homem domínio sobre sua criação mas haverá  Prestação de contas a D-us.

GR – Bens materiais = medida de realização pessoal.

H – Bens materiais = bênção de D-us para ser compartilhado com outros.

GR – A fé cega

H – A fé é baseada no conhecimento – experiência pessoal e em grupo

GR – Tempo como pontos em uma linha reta, inicio-meio-fim (“neste momento no tempo …”

H – Tempo determinado pelo conteúdo (“No dia em que o Senhor fez …”)

Autor: Brian Knowles

Tradução: Adivalter Sfalsin

Mente Hebraica x Grego/Romana Parte 1

Mente Hebraica x Grego/Romana Parte 1
A Bíblia no original é, humanamente falando, um produto da mente hebraica. A primeira manifestação original do que hoje chamamos de “Igreja” foi também uma expressão da mente hebraica. Em algum ponto na história eclesiástica, alguém abandonou o projeto inicial dentro do contexto hebraico comum aos dias de Jesus e o substituiu por um não-hebraico, precisamente Grego/Romano. Como resultado, o que foi construído desde então tornou-se uma caricatura do que se pretendia. Em muitos aspectos tornou-se antagônica aos milênios de historia, cultura e tradição oral herdada por gerações anteriores.
Vamos analisar algumas das diferenças fundamentais na mentalidade dos hebreus dos tempos bíblicos em contraste com a forma helenística (grego-romana) de pensar que deu surgimento a maior parte da teologia cristã.
William Barrett, explica diferenças fundamentais entre a mente Hebraica e Helenística: Fazer x Saber. Diz Barrett, “A distinção … é decorrente da diferença entre o fazer e o saber, a Hebraica está preocupada com a prática do comportamento correto que é de suma relevância, em contraste, a Helenística se preocupa com o conhecimento, o saber tem relevância sobre o fazer. Sendo assim a Hebraica exalta as virtudes morais como uma substância superior para uma vida significativa, e a Helenística exalta as virtudes intelectuais, o contraste é entre a prática e a teoria, entre o homem moral e o homem teórico-intelectual.
Isso talvez ajude a explicar o por que para muitas igrejas cristãs seu foco está nas questões ortodoxas doutrinaria, o número de denominações cristãs que existe é uma prova concreta disso. Todas crêem nos mesmos princípios básicos mas divergem e se separam ao ponto de não terem comunhão pelas mínimas diferenças doutrinarias, mostrando que a “doutrina correta” e mais importante do que comunhão com um irmão de uma persuasão diferente da sua.
No judaísmo bíblico, é justamente o oposto. Como Dennis Prager escreveu: “… a crença em D-us e o agir eticamente deve ser indissociáveis, indispensável… D-us exige um comportamento correto mais do que qualquer outra coisa, incluindo liturgia a crença correta.”
Foram cristãos gentios influenciados pela filosofia grega que intelectualizaram e sistematizaram a doutrina cristã. O pior de tudo e que eles mudaram essa doutrina de forma radical. Os hebreus dos dias de Jesus e logo a seguir a era apostólica da Igreja não tinham teologia formal ou sistematizada. A “igreja primitiva” não tinha hierarquia arraigada ou magistério por meio do qual toda a doutrina tinha de ser filtrada e aprovada.
O que os apóstolos ensinavam sobre um determinado assunto era aprendido diretamente de Jesus, aprendido com as tradições orais e experiências coletivas do povo judeu. Eles determinavam Halakha (como andar) diretamente das interpretações dos mestres em suas comunidades. A medida que as circunstâncias mudavam eles recorriam a interpretação da Torá (Pentateuco) e determinavam a ação a ser tomada (Halakha) (cf. Mateus 18:18). Atos 15 fornece um relato de como, no mínimo, um ensinamento sobre requisitos para crentes gentios foi formado por volta de 50 DC. Observe a natureza participativa da discussão, todos os membros da Igreja participaram (Atos 15:4,12,22), e não apenas uma elite estava envolvida nas decisões.
Em círculos cristãos tradicionais muitas vezes é mais importante acreditar e abraçar “a coisa certa ou doutrina correta”, do que viver da maneira certa. Alguns são obcecados com credos, declarações doutrinais, teologia sistemática e ortodoxia contra a heresia, esse modo de pensar é 100% helenístico.
Para muitos de nós, ocidentais, a mentalidade hebraica é tão estranha e impossível de compreender que ao estudar as escrituras hebraicas rapidamente pulamos de volta para a zona de conforto do molde helenístico. Naturalmente ao tentarmos interpretar o texto hebraico com nossa ótica ocidental (helenística) de interpretação consequentemente será no mínimo distorcida. Note que a maior parte do velho testamento foi escrito em hebraico e há fortes indícios de que os evangelhos foram originalmente escritos em hebraico e depois traduzidos para grego, de qualquer forma todos os livros do novo testamento foram escritos por judeus, portanto foram escritos por pessoas que pensavam de forma hebraica apesar de terem usado outra língua (grego).
Por exemplo, em termos de tempos “proféticos” aqui novamente mostra-se o conceito helenístico de tempo – Inicio-meio-fim – pontos numa trajetória linear. Queremos saber a ordem sequencial quando D-us vai agir, criamos um cronograma pré-ordenado dos acontecimentos e queremos eliminar os eventos do nosso “calendário profético” a medida que eles vão acontecendo. Essa mentalidade é alienígena para a mente hebraica, para ela, não interessa a seqüência exata dos acontecimentos, o que interessa é que D-us vai agir, a leitura do tempo é cíclica e não linear.
Na teologia ocidental, às vezes abandona-se a interpretação literal das Escrituras em favor de interpretações alegóricas. Isso também é tipicamente grego-romano. Interpretação alegórica abre portas para uma infinidade de exposições “criativas” que deixam o estudante das Escrituras confuso e desorientado.
Autor: Brian Knowles
Tradução: A S A