Qual o propósito da vida?

Qual o propósito da vida?

É indiscutível que todos nós em algum momento de nossas vidas vamos fazer essa pergunta crucial para entender se a vida vale mesmo a pena. Enquanto a bíblia não responde diretamente a essa pergunta, certamente responde de forma indireta.

Deuteronômio 20:1-8 nos relata um episódio de preparação para a guerra, antes de sair os líderes os oficiais deveriam se dirigir às tropas a véspera da batalha e dizer a quatro tipos de pessoas que voltem para casa e não lutem. Abaixo o texto:

1 Quando saíres à peleja contra teus inimigos, e vires cavalos, e carros, e povo maior em número do que tu, deles não terás temor; pois o SENHOR teu Deus, que te tirou da terra do Egito, está contigo.
2 E será que, quando vos achegardes à peleja, o sacerdote se adiantará, e falará ao povo,
3 E dir-lhe-á: Ouvi, ó Israel, hoje vos achegais à peleja contra os vossos inimigos; não se amoleça o vosso coração: não temais nem tremais, nem vos aterrorizeis diante deles,
4 Pois o Senhor vosso Deus é o que vai convosco, a pelejar contra os vossos inimigos, para salvar-vos.
5 Então os oficiais falarão ao povo, dizendo: Qual é o homem que edificou casa nova e ainda não a consagrou? Vá, e torne-se à sua casa para que porventura não morra na peleja e algum outro a consagre (text no hebraico significa – inaugurar).
6 E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro a desfrute.
7 E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda não a recebeu? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro homem a receba.
8 E continuarão os oficiais a falar ao povo, dizendo: Qual é o homem medroso e de coração tímido? Vá, e torne-se à sua casa, para que o coração de seus irmãos não se derreta como o seu coração.

Quem são essas pessoas?
Tipo 1.
Versículo 5: Quem construiu para si uma nova casa mas ainda não viveu nela.
Tipo 2.
Versículo 6: Quem plantou uma vinha e ainda não a desfrutou.
Tipo 3.
Versículo 7: Quem está noivo, prestes a casar-se.
Tipo 4.
Versículo 8: Quem é medroso e de coração tímido.

Ao compararmos os 4 tipos fica bem claro que o último é bem diferente de todos os outros. Ele vai para casa para o bem da comunidade. Ele é o covarde e tem medo, a covardia é contagiosa e porque não queremos que os outros soldados fiquem assustados e sejam contagiados então mandá-lo para casa é melhor para o bem comum. Mas ao observamos os outros três, existe um imperativo privado, o motivo pelo qual eles deveriam ir para casa não tem nada a ver com os interesses da comunidade, tem a ver com os interesses próprios. Então devemos colocá-los na mesma categoria – motivo privado.

A pessoa que construiu uma casa para si e ainda não morou deve ir para casa, por quê? Porque seria uma tragédia se ele morresse na guerra e não tivesse a chance de desfrutá-la. O mesmo aplica-se ao noivo e ao que plantou a vinha, mas todos esses motivos são pessoais. Como podemos justificar ou entender a ideia da comunidade dispensar um soldado da batalha baseado na necessidade individual e particular?

Conforme o relato da passagem o soldado que plantou uma vinha, mas não teve a chance de provar os frutos, devemos deixá-lo ir para casa desfrutar os frutos de sua vinha. Mas por quê?
A justificativa é: “para que ele não morra em batalha” e outra pessoa tome, assuma sua vinha e desfrute do seus frutos.

De alguma forma, se você alcançar um desses objetivos e provar os frutos desse sucesso, poderá sentir que não há problema em morrer depois, portanto a ordenança de enviar o soldado que está prestes a realizar seu sonho para casa. Porque quando você está tão perto de ter alcançado algo tão significativo isso te ajuda a transcender a morte, seria realmente uma tragédia morrer e não ter alcançado seus objetivos tão eminentes.

Para a maioria de nós essa decisão de mandar alguém para casa para desfrutar do seus sonhos e projetos não faz o menor sentido. Se ele morrer, para ele não importa quem vai tomar conta da sua vinha, morar na sua casa ou casar-se com sua noiva. Afinal ele não saberá quem está seu lugar, para o morto isso não tem a menor importância. Mas, a bíblia parece tomar um outro rumo e tem uma ideia diferente da nossa. Me parece que está sutilmente indicando que há algo pior do que a própria morte, afinal todos vamos morrer um dia. Esse “algo pior” é morrer sem alcançar um objetivo final após anos de empenho e dedicação, isso seria uma terrível tragédia. Vemos isso claramente quando um jovem ou criança morre, porque havia tanto para conquistar, tantas alegrias que poderiam ser vividas, tantos relacionamentos que poderiam ser cultivados.
Existe uma dimensão maior do que a morte e transcendente dentro de nós. Para sabermos se vale a pena viver temos que paradoxalmente perguntar: Há algo pelo qual eu estou disposto a morrer? Se a resposta for sim, isso quer dizer que você encontra seu propósito de vida fora de você mesmo, a sua vida é representada por algo que está disposto a morrer, seja o que for; D-us, país, amor, familia, crença vemos que há algo transcendente que é maior do que você mesmo e vem fora de você. Portanto, mesmo que não morra por isso, está vivendo em função disso, tenho algo que me motiva a viver.
Agora quais são os motivos pelo qual deveríamos viver? Esse texto sugere 3 razões convincentes, 3 marcos emblemáticos:

1- Construir uma casa,
2- Plantar uma vinha,
3- Casar-se

Mas de onde o texto obtém essas três ideias? São ideias aleatórias? Qual sua origem? Sugiro voltarmos ao evento da própria criação humana. Logo no início em Genesis 1:27 “ E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”

Primeiro D-us, o grande criador, cria o mundo, o universo, e esse universo torna-se a casa para a humanidade. D-us constrói uma casa.
A segunda coisa que Ele faz é plantar um jardim maravilhoso.
Em terceiro lugar, Ele coloca o homem no jardim onde junto com Ele, dessa forma D-us pode relacionar-se com o homem. Ambos no jardim compartilham uma relação pessoal nesse lugar maravilhoso.
Deus fez três coisas, na mesma ordem de Gênesis a Bíblia descreve aqui em Deuteronômio:
1- Constrói uma casa – o próprio universo.
2- Planta um jardim – este maravilhoso.
3- E coloca o ser que Ele ama naquele jardim para se relacionar com ele.

Como somos feitos na imagem e semelhança de D-us fazemos o mesmo sem mesmo notar,
D-us criou coisas porque eram significativas para Ele, nós as fazemos porque são significativas para nós.
Uma vez que você tem uma casa abre-se outras possibilidade, agora você também pode ter um jardim. O jardim é um lugar especial; uma casa é utilitária porque você tem necessidade de um abrigo para lhe protejer do sol e da chuva, mas um jardim é distinto, é maravilhoso, é estético, é lindo, é sua área de lazer.
O jardim também abre outras possibilidades, agora que voce tem a casa e o jardim então você pode dividi-lo com alguém especial, alguém que você ama e quer dar o melhor do fruto do seu trabalho.

D-us fez exatamente isso com o homem quando o convidou para visitar o jardim todos os dias no final da tarde (Gen 3:8) para compartilhar dos frutos maravilhosos do jardim; fazemos o mesmo quando nos casamos queremos compartilhar a generosidade de nossas vidas com um cônjuge, com nossa família.

Quando faço isso alcanço o terceiro marco da vida que me dá razão suprema para viver. Conforme o texto de Deuteronômio 20 parece que cada um desses marcos é o suficiente para dar razão para viver, mas verdadeiramente marcos 1 e 2 são uma progressão ao terceiro e maior marco: relacionamentos.

Essas três coisas são realmente nobres nelas mesmas, por meio das quais nós, seres humanos, encontramos razão para estarmos vivos que é um tipo de mecanismo para “enganar” a morte. Construindo, plantando e acima de tudo, relacionando-se. De todos os relacionamentos que temos o mais significativo é com o nosso Criador que nos completa, foi para isso que Ele nos criou. Ele construiu uma casa – o universo, plantou um jardim – a terra, e nos colocou aqui para termos uma relação direta com ele. É impossível ser um “ser humano” completo sem a presença de D-us, somos 100% humanos quando nos relacionamos com o Divino.

Esse artigo é baseado num video recente que assisti do Rabbi David Fohrman onde ele faz uma exposição desse texto em Deuteronômio.

 

Autor: A Sfalsin

Questões da vida.

Questões da vida.

Com uma certa relutância compartilho um diálogo profundo que se passou entre minha filha de 10 anos de idade e eu com 50 anos, mas acho que as lições nesse pequeno dialogo podem nos ensinar muito em relação as questões mais profundas que temos.
Era dia 25 de Março por volta das 5 da tarde quando me encontrava com minha filha numa sala de espera, depois de 22 horas intensas de vários exames médicos para determinar que tipo de tratamento a ser adotado. Estávamos ambos sentados numa sala de espera aguardando o transporte para retorno à casa depois de uma maratona exaustiva de exames. Ambos visivelmente cansados evitamos muita conversa numa tentativa de poupar a pouca energia restante, então, surpreendentemente o silêncio é rompido com a seguinte pergunta”:

Minha filha: “Pai, eu acho que não deveríamos mais servi ao nosso D-us”
Eu: Por que?
Minha filha: “Esse D-us não é bom Ele nos faz sofrer. Quando foram tirar o meu sangue doeu muito e Ele não tirou minha dor quando eu pedi”
Como responder a uma menina de 10 anos em forma simples para questões tão complexas? Esse era o meu desafio.
Eu: Veja filha, o mesmo D-us que nós dá o sol também dá a chuva, na vida temos tristezas e alegrias, dor e prazer, assim como também existem pessoas boas e más. O fato de você sentir dor não quer dizer que Ele não nos ama. Além do mais a pequena dor que você sentiu é para melhorar tua saúde.
Minha filha: : “Ah papai, eu tive uma boa ideia para dar a D-us.
Eu: Então, que ideia é essa?
Minha filha: “Sabe que você disse que existe pessoas boas e más? Vou dar a idea de dividir o mundo em dois, um lado só pessoas boas e do outro só pessoas más, assim não vai ter tanto problema”.
Eu: Com um certo riso respondi: É, sua ideia é ótima mas Ele prometeu que vai fazer isso no futuro, separar aqueles que amam ao Senhor daqueles que o desprezam.
Minha filha: “Então porque ele não faz isso agora?”
Eu: Sinceramente não sei, mas com certeza fará.

Após esse breve diálogo fiquei pensativo, fui transportado anos atrás ao início da minha juventude quando fazia esse tipo de perguntas. Fiquei surpreendido ao notar que uma menina de 10 anos de idade já faz perguntas tão profundas e tão comum a nós todos. Ao tentar desdobrar as questões fundamentais contidas em tais perguntas inocentes cheguei a conclusão de que o que realmente ela estava perguntando eram questões relacionadas com o propósito da vida,  como: Porque sofremos e qual será nosso destino? Em poucas perguntas ela conseguiu tocar nas questões mais profundas da vida, que são:
1- De onde eu venho? Origem.
2- Por que estou aqui? Propósito.
3- Para onde vou? Destino.
4- Por que sofremos? Justiça.
Essas questões são as mais básicas da vida e certamente se você ainda não as fez, em algum ponto de sua vida as fará. Para aqueles que tem uma mente voltada para a ciência a resposta da mesma é insatisfatória porque só lida com a questão da origem, deixando de fora as outras três, ao tentar explicar a origem da humanidade através de acontecimentos aleatórios através de teorias questionáveis, deixa de fora as questões mais importantes, como propósito, destino e justiça. Se somos o resultado do acaso cósmico, passamos simplesmente a ser uma forma de vida biológica que conseguiu evoluir a uma consciência própria. O problema é que essa posição deixa uma grande questão de fora, o propósito. A vida passar a ser uma tentativa de sobreviver e levar a espécie adiante até que o próximo acidente cósmico eleve a nossa forma de vida a um grau mais alto.

Os famosos filósofos gregos tais como Aristóteles, Platão e Heráclito que tanto influenciam o pensamento ocidental tentaram responder essas questões com uma visão dualista do mundo, onde o mundo é dividido em material versus espiritual, sendo que material é inferior e espiritual e superior. Influenciado por esse pensamento os soldados romanos ao serem confrontados com a eminência da guerra e a possibilidade concreta de morrer citava: “Gloria Exercitus” (glória ao exército), ele encontrava o propósito no coletivo (algo fora dele) e na certeza de uma glória no mundo espiritual, sua individualidade era sacrificada no altar da glória do império romano para um “bem” maior.
A visão bíblica da vida é muito mais abrangente ao responder essas questões, de forma coerente ela responde os anseios mais profundos do ser humano. Do gênesis ao apocalipse a bíblia responde essas questões de forma coerente e concisa, ao criar o ser humano “E disse D-us: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” Gen 1:26 ele responde a primeira questão – Origem.

Propósito – O sábio Salomão explora a questão da futilidade se vivermos como se este mundo e tudo o que nele existe e pode oferecer fossem tudo o que há. Ele conclui o livro de Eclesiastes da seguinte forma:
13 De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.
14 Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Eclesiastes 12:13-14
Ele enfatiza, depois de discursar aspectos práticos da vida, que a vida se resume a honrar a D-us em nossos pensamentos, guardar Seus mandamentos porque um dia estaremos diante do trono divino para prestar contas.
Em Mateus 1:21 diz que Jesus veio para “salvar o seu povo dos seus pecados”. A palavra “salvar’ aqui no grego é “sōzō” que quer dizer “restaurar/curar”, mas restaurar o que? A relação perdida no jardim do éden, onde a relação entre D-us e a humanidade foi quebrada através da desobediência do homen. Vemos que o propósito está intrinsecamente ligado aos relacionamentos, encontramos sabor na vida quando nos relacionamos uns com o outros. Uma vida vivida na solidão se torna vazia e sem razão. D-us ao declarar “façamos” dá a entender que ele é um Ser relacional. Essas e outras muitas passagens nos revela o propósito da vida é encontrado nas relações, se a relação humana é tão vital para nosso propósito, quando mais nossa relação com nosso Criador.
Destino – O último livro da Bíblia, o Apocalipse, discute o que irá acontecer no fim dos tempos. Após o retorno de Jesus os céus e a terra que nós conhecemos serão destruídos e um novo céu e uma nova terra serão criados eternamente. Todas as maldições lançadas no gênesis serão desfeitas, não haverá mais tristeza, doenças, morte e dor. (Apocalipse 21:4). D-us diz que aqueles que persistirem irão herdar todas as coisas, Ele será seu D-us e eles serão Seus filhos. Portanto, como era no início em Gênesis, a humanidade redimida irá viver em comunhão com D-us, livre do pecado e da maldição do mesmo, em um mundo perfeito.
“Amados, agora somos filhos de D-us, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos.
E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro”.
1 João 3:2-3.
Justiça – Quem nunca se perguntou porque sofremos ou porque o mal existe? Obviamente não é possível explorar esse tema complexo em poucos linhas, mas gostaria de brevemente tocar em alguns aspectos dessa questão. 1- Ao fazermos essa pergunta pressuponha-se que deve haver justiça. Aquele que crer somente na ciência ou se declara ateu não tem base moral fundamental para fazer tal pergunta, porque na cosmovisão dele não há D-us, se somos apenas produto da evolução ou do acaso, o que importa se há justiça ou não? Se morremos hoje ou amanha? Se é acidental ou provocado por alguém?
A busca pela justiça pressupõe que haja uma ordem moral universal que me permite fazer tal pergunta, se há uma ordem moral universal tem que necessariamente haver um doador dessa ordem, na visão bíblica, esse agente é D-us. Se não há D-us, a questão do bem e do mal se evapora.
Quando presenciamos injustiça ou o sofrimento de um inocente, um mecanismo natural dentro de nós grita estridentemente dizendo: “não devia ser assim”, “isso está errado”, de onde vem esses questionamentos? Talvez seja um indício que realmente haja um D-us justo e que realmente não deveria “ser assim”, mas algo está errado. Esse algo é o pecado, o errar o alvo, o desobedecer ao Senhor. Por isso que Paulo, grande conhecedor do Tanak (Velho testamento) declarou: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.”

Autor: Adivalter Sfalsin