Entendendo as palavras difíceis de Jesus Parte 1
Ligar e desligar
Mateus 16:19 – (leia todo o texto para entender o contexto desse versículo)
E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
Os verbos traduzidos como ligar e desligar no original são amarrar e desamarrar que aparecem com mais de um significado no velho testamento, por exemplo:
Em Juízes 15:12 E disseram-lhe: “Descemos para te amarrar e te entregar nas mãos dos filisteus. “
Em Gênesis 49:11 “Ele amarrará o seu jumentinho à vide, e o filho da sua jumenta à cepa mais excelente; ele lavará a sua roupa no vinho, e a sua capa em sangue de uvas.”
Em Números 30:2 “E ordenou aos homens mais poderosos, que estavam no seu exército, que atassem a Sadraque, Mesaque e Abednego, para lançá-los na fornalha de fogo ardente.”
Em Daniel 3:20 “Quando um homem fizer voto ao Senhor, ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra: segundo tudo o que saiu da sua boca, fará.”
Em 2 Reis 17:4 “Porém o rei da Assíria achou em Oséias conspiração; porque enviara mensageiros a Só, rei do Egito, e não pagava tributos ao rei da Assíria cada ano, como dantes; então o rei da Assíria o encerrou e aprisionou na casa do cárcere.” Quer dizer: Emprisionar.
Essa palavra ao chegar nos tempos de Yeshua (Jesus) havia adquirido mais um sentido, o de amarrar ou permitir, similarmente desamarrar ou proibir. Na literatura rabínica na maior parte dos textos o sentido é de permitir ou proibir. Rabinos e sábios na época de Yeshua (Jesus) eram constantemente solicitados para interpretar os mandamentos divinos em suas comunidades, com perguntas como “tal ação é permitida dentro da lei divina”? ou “tal ação pode me tornar ritualmente impuro? Etc… A bíblia proíbe o trabalho no sábado mas não define o que é trabalho, por esse motivo os sábios e rabinos eram chamados para interpretar o que constituía trabalho, desta forma “permitiam ou proibiam” (ligavam ou desligavam) algumas atividades.
Os tradutores gregos de Mateus 16:19 usaram as palavras “dein” e “luein” que significam amarrar e desamarrar embora o texto no seu contexto lingüístico significa permitir e proibir. Após essa consideração podemos concluir que Jesus estava dando a Pedro autoridade para tomar decisões em relação a vida da igreja, ele conferiu a Pedro o símbolo de autoridade “chaves do reino do céus”, “reino do céus” aqui é sinônimo da palavra D-us. Em suma o que Pedro proibisse D-us proibiria e o que Pedro permitisse D-us permitiria em relação a regulamentação da vida da igreja.
O movimento que Yeshua (Jesus) criou, fenômeno chamado “os seguidores do caminho” era um novo capítulo na história judaica, novas situações iriam ocorrer onde esse movimento teria que tomar decisões únicas. Situações que a bíblia (Velho Testamento – Tanak) não havia instruções em como agir e até mesmo os sábios de Israel não saberiam o que fazer. Decisões teriam que ser tomadas e soluções teriam que ser encontradas e mais preocupante ainda o Mestre não estaria com eles fisicamente para ajudar em tais decisões, a responsabilidade seria de Pedro e de outros lideres desse novo movimento, contudo a afirmação de Yeshua (Jesus) dá legitimidade e afirma a autoridade de Pedro e dos lideres não deixando espaço para o medo em tomar decisões erradas. Autoridade foi dada para que ligassem (permitissem) ou desligassem (proibissem) com o aval do Senhor.
Os apóstolos assim como os sábios e rabinos eram solicitados para interpretarem as escrituras (velho testamento – Tanak) e principalmente a Torá (5 livros de Moisés), resolver disputas internas e encontrar respostas em tempos de crise. As vezes eram confrontados com pequenos problemas e reclamações como por exemplo em atos 6:1-6 onde houve murmuração dos gregos contra os hebreus na distribuição diária da comida as viúvas.
“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.” Atos 6:1
As viúvas dos gregos estavam sendo desprezadas em relação em relação as viúvas dos judeus. Noutras ocasiões os problemas eram mais sérios algumas controvérsias com potencial para dividir a comunidade de forma irreparável. Uma dessas controvérsias é descrito em Atos 15 – a questão era se os judeus em suas sinagogas deveriam aceitar os gentios que tinham aceitado Yeshua (Jesus) como Senhor de suas vidas sem a exigência da circuncisão descrito na lei de Moisés (Torá). A decisão alcançada é um clássico exemplo de como a liderança desse novo movimento exercer sua autoridade de ligar (permitir) e desligar (proibir). Os discípulos e anciões se reuniram para discutir o problema, depois de muito debate Pedro se levanta e fala em Atos 15:1-11:
“1 Então alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.
2 Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, sobre aquela questão.
3 E eles, sendo acompanhados pela igreja, passavam pela Fenícia e por Samaria, contando a conversão dos gentios; e davam grande alegria a todos os irmãos.
4 E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles.
5 Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés.
6 Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.
7 E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Homens irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem.
8 E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós;
9 E não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé.
10 Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
11 Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.” Atos 15:1-11
Depois Tiago em Atos 15:13-21.
“E, havendo-se eles calado, tomou Tiago a palavra, dizendo: Homens irmãos, ouvi-me:
Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome.
E com isto concordam as palavras dos profetas; como está escrito:
Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído, levantá-lo-ei das suas ruínas, e tornarei a edificá-lo.
Para que o restante dos homens busque ao Senhor, e todos os gentios, sobre os quais o meu nome é invocado, diz o Senhor, que faz todas estas coisas,
Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras.
Por isso julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus.
Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da fornicação, do que é sufocado e do sangue.
Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas.” Atos 15:13-21
Nessa situação a decisão de Pedro foi essencial e crucial levando em consideração que Yeshua (Jesus) deu a ele autoridade que afetaria o destino da comunidade daqueles que criam Nele. Pedro então permitiu (ligou) que os gentios entrassem na comunidade dos que criam em Yeshua (Jesus), uma sinagoga sem a necessidade de fazer a circuncisão.
Ele deliberou (permitiu) que o mandamento da circuncisão que era muito pesado para os gentios cumprirem v10 fosse abolido, sendo esse mandamento exclusivo para judeus dentro dos ensinamentos (Torah) de Moises. No v19 Pedro permitiu a entrada dos gentios sem o requerimento da circuncisão:
“Por isso julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus”.
Mas no v20 Tiago proibiu (amarrou):
“Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue”
Gentios deveriam se distanciarem de cultos pagãos que envolviam prostitutas sacerdotisas em seus rituais, se absterem de comer carnes de animais que o sangue não tinha sido removido conforme descreve Lev 7:26
(carne sufocada) “E nenhum sangue comereis em qualquer das vossas habitações, quer de aves quer de gado.”
Da idolatria. “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” Êxodo 20:4
Depois da exposição de Pedro (permissão) e Tiago (proibição) o restante da liderança confirmou a decisão e depois toda a comunidade.
Tradução: A Sfalsin
Retirado do livro
Understanding the difficult words of Jesus
Autor: David Bivin
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