Teologia da substituição Parte 2

Teologia da substituição Parte 2

Como discutido na postagem anterior: Teologia da substituição Parte 1 – https://raizeshebraicas.com/2022/01/29/teologia-da-substituicao-parte-1/
     A teologia da substituição erra em vários pontos, primeiro por apresentar uma narrativa incompleta, depois por deturpar o caráter de D-us. A aliança feita com Abraão foi unilateral, imutável e irrevogável.
Como eram feitas as alianças na antiguidade?
     Numa era onde não existia escrita, nem papel, desenvolveu-se rituais para firmar pactos e alianças de paz, casamento, compra e venda de propriedades etc… Como acreditava-se em vários “deuses” que eram os sustentadores da ordem natural do universo e tinham o poder sobre a morte e vida tudo era feito em nome desses “deuses”. Se duas partes A e B tinham interesse em fazer um pacto ambos traziam alguns dos melhores animais do seu rebanho, os partiam ao meio e arrumavam de forma que as duas metades fizessem um corredor. Então o pactuante A passava ao meio das carcassas e recitava a parte de sua obrigação no contrato, depois o pactuante B fazia a mesma coisa, ao terminar cada um oferecia suas carcassas num altar ao seu deus.
     Esse ritual significava que se tanto parte A ou B não cumprisse sua parte do contrato ele estaria dando a autoridade a outra parte de cortá-lo ao meio como foi feito com os animais.
Tendo dito isso, vamos ver como aconteceu o pacto entre D-us e Abraão:
Gen 15:
1- D-us instrui Abraão o que deve fazer.
v9 E disse-lhe: Toma-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho.
v10 E trouxe-lhe todos estes, e partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em frente da outra; mas as aves não partiu

2- A parte de D-us no contrato.
V13 Saibas, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos.
V14 Mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza.

3- A parte de Abraão no contrato, estranhamente ele é posto para dormir por D-us e não recita sua parte da aliança.
v12 E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele.

Indicando que esse pacto seria unilateral, D-us cumpriria sua parte da aliança mas Abraão seria incapaz de cumprir, sabendo disso o pôs para dormir.
Encontramos mais detalhes dessa aliança em Gen 17:7 E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti.

A palavra chave aqui é “perpétua” em hebraico Olam (עוֹלָם), com significado em português: posteridade, para sempre, sempre, eterno, eternamente, perpétuo, existência contínua, perpétua, futuro indefinido ou interminável, eternidade. No grego, aiōn (αἰών): para sempre, uma era ininterrupta, perpetuidade do tempo e eternidade. Exemplo Hebreus 13:8 “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente (αἰών).”

Portanto a aliança feita com Abraão é definitivamente imutável, irrevogável e eterna independente das tendencias e influencias eclesiásticas, método de interpretação humano e triunfalismo gentílico. Lembrando que Paulo nos adverte em Rom 11:25
“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.”

Sim, a maior parte dos judeus rejeitaram o messias mas a aliança eterna e unilateral de D-us continua sendo valida. O evangelho só chegou a nós porque uma minoria dos judeus como os discípulos e os apóstolos foram fiéis ao Senhor e passaram a mensagem para frente chegando até nós, os gentios.

Paulo ainda nos alerta:
Rom 11:
v1 – Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum;
v2 – Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu.
v11 – Digo, pois: Porventura tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação (ciúmes).

E finalmente a exortação mais pungente:

Rom 11:18
“Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.”

Finalmente gostaria de lembrar que o apóstolo Paulo (seu nome grego), Saulo (seu nome hebraico) At 13:9 era um rabino e mesmo depois do encontro com o Senhor Jesus no caminho damasco, continuo a guardar o sábado (At 13:14), circuncidou a Timóteo (At 16:3) sua bíblia era o Tanak (velho testamento). Ele manteve sua identidade judaica, observava a Torá e em suas próprias palavras podemos ver que a “teologia da substituição” é uma dicotomia errônea.

A Sfalsin

Mulher virtuosa quem a achará?

Mulher virtuosa quem a achará?

Provérbios 31:10-31

O último poema do livro bíblico de Provérbios fala a respeito da mulher “virtuosa”. O poema foi originalmente escrito em hebraico e consiste em 22 versos, cada verso começando com a primeira letra do alfabeto (aleph) até a última letra do mesmo (tav), assim listando 22 virtudes de uma mulher sábia num acróstico inteligente em forma quiástica, diferentemente do português o poema em hebraico tenta harmonizar as ideias e não as palavras. Infelizmente quando esse lindo poema foi traduzido para português perdeu essa linda estrutura, que na sua forma quiástica aponta para uma mensagem central.
Mas antes de tudo, o que é um quiasmo? O quiasmo consiste de uma estrutura onde o primeiro elemento corresponde ao último elemento da poesia, o segundo corresponde ao penúltimo, o terceiro corresponde ao antepenúltimo, etc.. até chegar ao centro onde não ha mais correspondência e a mensagem central da poesia é encontrada.
Exemplo:

UntitledImage

O Texto apresentado na sua forma original no quiasmo:

Texto 2

Minha interpretação da ideia de cada versículo:

Definicao

Quero frisar que a palavra hebraica traduzida como “virtuosa” no v. 10 é hay’il (חַיִל ). A conotação dessa palavra em português está ligada a pureza, simplicidade ou moralidade, diferentemente do hebraico que tem vários significados relacionados ao poder, força, poder; capaz, valente, virtuoso, valor; exército, forças, riquezas, substância. O significado básico deste substantivo é “força”, da qual pode ser derivado” exército” e “riqueza“. Hay’il é usado 244 vezes na Bíblia. Portanto, a melhor tradução concisa dessa mulher seria, “a mulher cheia de fibra”.
Note que a ação no lar tem um alcance na sua comunidade local, não só de forma econômica mas também social, ela ajuda aos de casa e também aos de fora, ela ajuda a seu marido em diversos aspectos da vida familiar e pública. “Seu marido é conhecido nas portas”, isso quer dizer que ele se tornou um dos magistrados da cidade expedindo justiça ao povo, isso só foi possível com a ajuda dela. Penso que a mensagem central desse texto seja o comprometimento de um casal em querer o bem comum, sabendo que ambos ganham quando o amor existe entre eles, não só a família mas assim como toda a sociedade. Quando esse comprometimento não ocorre a família é a primeira vítima mas a sociedade em geral.
Infelizmente basta olhar ao nosso redor para ver uma triste realidade de casais separados, famílias destroçadas e filhos sem rumo. Esse poema apesar de seus quase 3.000 anos é tão relevante para nossos dias, devemos prestar atenção e aprendemos com ele.

Autor: A Sfalsin